quarta-feira, 9 de março de 2011

RESENHA SALA DE AULA INTERATIVA - MARCO SILVA

SILVA, Marco. Sala de Aula Interativa – Rio de Janeiro: Quartet, 3ª ed. 2002. 220 p.

Em Sala de Aula Interativa, o autor discorre sobre as questões relacionadas à interatividade e suas imbricações na educação. Abre um diálogo a respeito das impressões, conceitos, preconceitos e aplicações da interatividade. Convida-nos a pensar complexo, onde a interatividade aparece como um processo de reconfiguração das comunicações humanas. Onde a internet é apenas, mais uma possibilidade de interação e a lógica da distribuição é substituída pela lógica da comunicação. Reflete também sobre o papel do emissor e do receptor, que em tempos de interatividade, inclusive a mediada pela internet, perde a linearidade e a barreira que os limita.

O autor, também versa sobre o hipertexto e todas as possibilidades que ele abre, com a democratização da informação para o indivíduo, permitindo que ele deixe de ser apenas consumidor, para ser participativo e criativo, também produzindo informação.
Por fim, Marco Silva, deixa claro qual a necessidade de adaptação da educação para o mundo interativo ao qual estamos inseridos, baseados nas leituras de Edgar Morin, Paulo Freire, Pierre Levy, entre outros. Fala da mudança de postura dos educadores, do fim da lógica do falar/ditar para a convocação dos alunos a saírem da postura passiva da recepção, para participarem e co-criarem o conhecimento.

O livro é dividido em três capítulos. O primeiro fala da sociedade de informação, interatividade e os desafios para a educação. E é dividido em duas seções: A emergência histórica da interatividade; e Modificar a comunicação: desafios para a educação.
O segundo capítulo: O que é interatividade, dividido em três seções, onde a primeira fala dos aspectos gerais, a segunda aborda conceitos de interatividade e interação e a última seção fala sobre os fundamentos da interatividade
O terceiro e último capítulo chama-se: Educar em nosso tempo, e em três seções exemplifica a dissolução do sujeito, educação do sujeito; Socialização presencial e a distância e por fim incentiva a autoria do professor.

Em sala de aula interativa, Marco Silva explana no primeiro capítulo a relação da sociedade de informação e suas interações. De como os indivíduos da contemporaneidade interagem adaptando-se a nova configuração social. Interatividade essa que é analisada sob os aspectos tecnológico, mercadológico e social. Fala do rompimento com a linearidade e com a mudança de postura do espectador das mídias de massa, que sentem a necessidade de interagir para inferir, transformar e criar. Vimos também à discussão a respeito da sociedade de rede, referindo-se ao novo perfil da sociedade na era da informação, que emerge para uma existência de informação interconectadas.
O autor fala da necessidade de adaptação da escola aos moldes hipertextuais da sociedade atual, onde a experiência comunicacional vivida pelos alunos é menos passiva diante da emissão.

No segundo capítulo vários enfoques são dados à interatividade onde não linearidade, bidirecionalidade, conversação livre e criativa, intercambio, feedback entre outros termos, são usados para um provável conceito da palavra. Faz também uma diferenciação entre interação e interatividade, exemplificando as restrições de cada termo. Discute também a respeito dos fundamentos da interatividade: participação-intervenção; bidirecionalidade-hibridação; permutabilidade-potencialidade. Traz o exemplo do Parangolé de Hélio Oiticica, como arte interativa, já que não estava acabada, só se constituía completa quando em movimento estabelecido através da participação sensório-corporal dos espectadores-atores.

O autor convoca os educadores a fazerem com que seus alunos se “inscrevam nos estados potenciais do conhecimento arquitetados pelo professor, de modo que evoluam em torno do núcleo preconcebido com coerência e continuidade. O aluno não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Ele cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se co-autor.”

Creio que a obra de Marco Silva é bastante elucidativa no quesito interatividade em sala de aula. Principalmente porque fica evidente que a proposta não é presa à tecnologia, mas sim em um novo estilo de práxis pedagógica alicerçado por uma modalidade comunicacional que propõe multiplicidade de conexões, bidirecionalidade, participação, cooperação, entre informações e co-autorias. É imprescindível, que nós professores compremos essa briga, buscando modificar a comunicação em sala de aula e na educação. Isso significa aceitar a cibercultura como nossa época e permitir que nossos alunos co-criem conosco na invenção de um novo modelo de educação.

A obra é bastante interessante e esclarecedora, para todos que se interessam pelo tema educação, sociedade, tecnologias digitais e interatividade. Traz elucidativas discussões do impacto da interatividade em nossa vida, principalmente na práxis pedagógica. Pode sem dúvida, servir de manual para educadores que tenham a intenção de revolucionar a dinâmica comunicacional de sua sala de aula.

Marco Silva além de sociólogo é mestre e doutor em educação. Professor da UERJ e da UNESA, desenvolve pesquisa sobre a interatividade aplicada ao ensino presencial e a distância.

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